É durante a infância que vivemos a relação mais profunda, mais natural e mais íntima com o tempo. Nunca mais estaremos tão disponíveis quanto a criança que fomos, aquela para quem tudo é novo, que sabe sonhar, surpreende-se e tudo esquece para aproveitar o instante. Sem o peso do passado e sem a preocupação do futuro, atravessamos esses primeiros anos no presente, antes que seja corroído nas duas pontas pelas lembranças e pelos projetos.
- Jean-Louis Servan-Schreiber

Quando uma criança nasce e encontra eco e voz no mundo, através de seus familiares e professores, ela pode exercitar sua mente plástica e criativa usando seus sentidos. À medida que ela cresce, expande seus caminhos, ousa, cria, modula sua imaginação e vive, genuinamente, cada experiência que se apresenta.
Ela busca no outro, nos pares e nos personagens que habitam seu interior, sua voz, expressão e encantamento com a fantasia que lhe reveste de poderes e sentimentos. Nesse trânsito entre o “eu” e o “nós”, entre o real e o imaginário, meninos e meninas buscam crescer em um território conhecido, mas ainda cheio de curvas e trajetos que estão se cumprindo.

Tal caminho, o do desenvolvimento, traz consigo, em sua pele e emoções, a força de uma infância bem-vinda e bem-vivida.
Uma infância que permitiu à criança ser ouvida e se colocar, ter abrigo e ser convidada à autonomia, viver no coletivo sem deixar a sua subjetividade de lado; que permitiu, também, ter o outro como referência e interlocução, diante de seus questionamentos vivos e cheios de sabedoria.
Certamente, as marcas e lembranças registradas na alma da criança, suas vivências e expedições, irão garantir e contornar novas experiências, dando ao jovem/adulto do futuro, referências preciosas de outros tempos, suas impressões e expressões.

É fundamental que a escola de educação infantil marque seu espaço na vida das crianças que celebram seu primeiro setênio, inaugurando cada etapa dos anos em que a criança está livre para se formar, se constituir: “vir a ser” e, para tanto, deve estar totalmente desprendida da intenção de pré-parar um ser tão potente à uma vida escolar cheia de conteúdos e limitações físicas.
Por isso defendemos a ideia de que o corpo, nessa primeira etapa da vida, possa experimentar e sentir, antes de abstrair e que possa sonhar e projetar um futuro antes da criança aquietar seu corpo e mente em carteiras escolares. Que a mente e as emoções desses indivíduos possam estar fortalecidas e críticas para sobreviver e saber agir nos pátios e recreios coletivos, assim como, nas telas de seus celulares e nas redes sociais, comunicando e compartilhando conosco seus medos e angústias, os da próxima etapa, o segundo setênio.

Viva a primeira infância! Para que assim, possamos, mais tarde, festejar, também, as outras fases que virão!
Marcella e Lila
Coordenação Pedagógica